15.10.17

Diário de Bordos - Málaga, Andaluzia, Espanha, 15-10-2017

É domingo, mas já ganhei a minha caña, a J. vem aí, o tempo continua estival e a única coisa que me chateia é que se calhar vou ficar mais um dia aqui, a fazer fé nas últimas previsões. Talvez seja engano, não sei, vamos ver. De nada serve um gajo excitar-se demasiado antes de tempo, nesta vida de mar. Agora espero pela J., bebo uma cerveja e escrevo disparates no café Galopain, uma coisa metida a afrancesada e cujo nome começa logo por um erro de ortografia, suponho. Devem ter querido dizer Galopin, que é o equivalente à nossa Lambreta, uma imperial pequena. Meia imperial, por assim dizer.

Málaga está mais calma do que da outra vez que aqui estive, foi no pico do Verão. Parece uma cidadezinha burguesa, calma e de bom gosto, pelo menos a julgar pela padaria La Canasta onde hoje comprei pão, presunto e chouriços para o pequeno almoço e pelo erro de ortografia que lhe fica mesmo à frente, onde tento enganar o sono porque me deu um ataque de soneira que só com mais dez cañas passará; não comemos os enchidos e o presunto porque os armadores não quiseream e eu não quis abrir aquilo só para mim mas o pão era excelente e marchou deliciosamente com a manteiga dos Açores.

Galopin também significa "miúda da rua".

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Pouco importa. J. apareceu, mas de raspão porque tinha de ir trabalhar e eu mudei-me para a Canasta onde daqui a pouco me vou encontrar com os armadores e onde agora bebo um copo de vinho tinto e penso na ecologia, na J., em St. Martin onde a conheci - ficou comigo a bordo do S. M., cada um no seu camarote sem excepções, note-se - e em como não sei como raio de carga de água vou deixar esta vida, parece-me que querer viver em terra é como querer andar atrás das miúdas que me deram tampas atrás de tampas. Ele é a terra e as miúdas, tampas e sonhos.

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Os domingos de manhã foram feitos para isto, não foram?

(Isto sendo trabalho, uma miúda cujos cabelos brancos fazem mais bonita do que quando os tinha só pretos, pretos retintos, vinho tinto - cf.missa, já lá alguém viu vinho branco? - e umas croquetas de salsichón de Málaga que a três euros e picos a meia dúzia deliciosa me fazem perguntar se um dia não terei de me mudar para Espanha e sim quando (a net de merda diz-me logo que não, obrigado, nunca).

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A dor no cotovelo direitio tem nome, desde Abril. Chama-se epicondilose e não me larga, a puta. As putas: são duas, uma ao lado da outra.

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