17.10.17

Diário de Bordos - No mar a Sul de Adra rumo a Cartagena, 17-10-2015

São seis e meia da tarde, estou de quarto até às nove (entrei às seis), está frio (é o primeiro dia de Outubro desta viagem), o vento está ponteiro mas fraco e vamos a motor. Estou quinze milhas a Oeste de Almerimar (e a cinco de terra); desde pouco depois de Sagres que a VHF não se cala com avisos à navegação: cinquenta e cinco pessoas; trinta e quatro; oito; cinquenta e sete, a bordo de lanchas, botes de borracha, insufláveis... É horrível. Penso no que está gente pagou para ser tratada desta forma, explorada, roubada, entregue a campos de refugiados. Tudo isto é melhor do que o que têm; tudo isto é nojento.

A Europa tem culpas no cartório. Não as que os "desculpistas" tiram do chapéu a cada esquina, mas as de fechar as fronteiras aos produtos agrícolas que os países africanos podiam produzir e exportar; as de alimentar e financiar regimes corruptos e despóticos para aliviar a má consciência  (que é completamente injustificada, ainda por cima).

Ou seja, para nos desculparmos de crimes imaginários e para proteger meia dúzia de agricultores franceses condenamos milhares de inocentes à morte e à infâmia de uma vida miserável.

Depois vamos ajudá-los: enviamos meninos e meninas em barquinhos, enviamos vasos de guerra e lançamos avisos sem fim na VHF.

Merda! para esta merda toda.

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Entretanto Portugal arde e António Costa dá uma lição ex-catedra sobre a arte de ser português.

Lição que aprendi mal, infelizmente e agora é tarde. Gosto de Portugal e provo-o com actos, não com palavras; viajei o suficiente para saber que todos os paises têm coisas detestáveis. Mas Portugal é o meu e é onde quero passar o que me sobra (ou o que me falta, depende do ponto de vista). António Costa provoca-me náuseas,  quase tantas como o seu patrono Sócrates. Deviam ir os dois combater os incêndios ao lado dos bombeiros. E se possível ficar por lá.

Enfim, não lhes desejo a morte. Mas umas queimaduras em segundo grau não lhes fariam mal. E talvez abrissem os olhos dessa ameba escorregadia que faz de nós parvos. (O outro pelo menos tem a justiça pela frente. Ao menos isso. Custou mas foi).

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Está frio, estou com vontade de chegar a Palma e amanhã entra badanal. O mar está cheio de desgraçados em busca de uma vida melhor do que a que teriam se ficassem nos seus países. Melhor deixar o Costa em paz, mai-los agricultores franceses e os meninos com sede de aventura. Antes concentrar-me no quarto. Ainda faltam duas horas.

[Adenda: apresso-me a esclarecer os mais puristas que não há tráfego, estou longe da terra e levanto os olhos do telefone de cinco em cinco minutos.]

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